Reflexão
Um homem adquiriu uma casa em uma propriedade que lhe pareceu de excelente qualidade. A localização, próxima à escola, permitiria que as crianças não tivessem problemas maiores para o aprendizado das letras.
O local era bem iluminado à noite, pois vários postes de luz se acendiam tão logo a claridade do dia diminuísse.
Tudo parecia perfeito. Ele não entendeu muito bem porque o dono, que lhe vendera a propriedade, dela se desfizera por um preço quase irrisório.
Alguns dias depois é que se deu conta porque o antigo dono saíra daquela casa, desgostoso e amargurado. O problema era o vizinho.
Água podre escorria pelo seu quintal, vindo do terreno ao lado. As crianças jogavam pedras, quebrando o telhado e as vidraças.
Papéis e outros produtos eram queimados, deixando cheiro ruim nas roupas que a esposa acabara de estender no varal. Parecia proposital. Bastava colocar as roupas no varal e lá vinha a fumaça.
Lixo era jogado no seu quintal: latas, vidros, objetos inaproveitáveis. Seus filhos não podiam brincar na calçada porque logo os filhos do vizinho os vinham perturbar, arrancando-lhes das mãos a bicicleta, o carrinho, a bola e os ameaçando com palavrões.
Preocupado, o pai de família procurou um advogado. Acreditava que, com vizinho tão difícil, somente a lei o poderia ajudar. Deveria ter, com certeza, lei que protegesse o cidadão de outro ser que não agia como cidadão.
O advogado, muito bem conceituado na cidade, ouviu com atenção. À medida que ia tomando ciência de todas aquelas barbaridades, foi se indignando.
Quando a exposição de todos os atos foi concluída, ele falou que a família vizinha deveria ser muito irresponsável. As crianças eram perversas. Os pais ausentes. Como podiam permitir tamanhos disparates?
A medida mais correta seria recorrer à ação policial. Sim, somente uma ação grave poderia pôr fim àqueles desmandos e tamanho desrespeito.
Sentou-se frente ao computador para preparar os papéis, a fim de dar uma solução ao caso e perguntou ao homem qual era o endereço da sua residência.
Quando ouviu o nome da rua, o número, a exata localização, ficou pálido e se recostou na cadeira. A casa do vizinho tão mal-educado, das crianças terríveis era o seu próprio lar.