Reflexão Della Morena (06/07/22)

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  • Publicado: Núcleo Digital - 06/07/2022

Em uma noite de rigoroso inverno, a campainha da casa do médico, daquela aldeia afastada, soou insistentemente. Sem se demorar o atencioso clínico abriu cautelosamente a porta, por causa do vento que soprava com violência, e verificou a presença de um menino de uns oito anos de idade aproximados. Estava com a cabeça enfaixada com um pano já totalmente ensopado de sangue e demonstrava sentir dores.
– Mas, meu filho, o que aconteceu com a sua cabeça? Está ainda sangrando!
– Bem, doutor, meu irmão e eu brincávamos em cima do celeiro; de repente, ele quis a peteca que estava na minha mão. Eu, naturalmente, não a entreguei porque me pertencia.
Então, ele ficou muito irritado e me empurrou lá de cima e eu caí do alto bem em cima de um velho tonel, que meu pai havia colocado por ali, e feri a minha cabeça na fita metálica que o reforça.
O médico, pacientemente, o conduziu para o seu pequeno consultório. O exame, relativamente demorado, mostrou que no ato da queda uma boa extensão do couro cabeludo abriu-se.
Todo o local foi muito bem lavado com água oxigenada; mas foram necessários muitos pontos para recolocar a pele no seu devido lugar. Em virtude da emergência do caso, não foi possível providenciar-se qualquer anestésico. Apesar disso, o menino se portou com uma extraordinária fibra. Ficou quietinho, não chorou e nem gritou, apesar de toda a dor que sentiu. Terminada a operação, o médico, surpreendido e até emocionado com aquela tão grande coragem do garoto, ofereceu-lhe como prêmio um tablete de chocolate.
Ao entregá-lo, aconselhou-o dizendo:
– Olha, meu filho, enquanto caminhar de volta para casa, vá comendo o chocolate. Isso fará com que recupere um pouco das energias que perdeu. Entretanto, para surpresa ainda maior do médico, o menino respondeu:
– Sim, doutor, muito obrigado. Vou comer; mas comerei apenas a metade. O restante vou levar para o Renatinho.
Entre admirado e intrigado, o médico replicou de imediato:
– Mas escuta aqui uma coisa: esse Renatinho é o seu irmão?
– Sim, é ele mesmo o meu irmão gêmeo. O meu nome é Ricardo -explicou o menino.
– Até aí, tudo bem – concordou o médico, e continuou: – Mas não foi ele quem o empurrou de cima do celeiro, depois de querer sua peteca?
Com um brilho singular nos seus olhinhos, o pequeno respondeu com toda amabilidade e ternura tão próprias de uma criança da sua idade:
– É verdade, doutor; mas mesmo assim ele é o meu irmão!
Que maravilhosa lição de amor deu o pequeno paciente ao seu médico. Tantas vezes nos prejudicamos porque a nossa reação natural é sempre a de desejar retribuir o mal com o mal.
Seríamos também felizes se, como Ricardo, cultivássemos a prática do perdão. Perdoar é obrigação. Não se faz nada de extraordinário, quando se perdoa o ofensor.


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