Reflexão Della Morena
Num ponto da estrada, dois estranhos vultos se encontram. O primeiro, de olhos inquietos, cabelos em desalinho, rosto triste e magro, segurando, na mão esquelética e ossuda, um martelo, dizia à outra personagem que se mostrava quase despida, com os olhos iluminados pela compaixão:
- Eu sou a Dor. Sempre sou recebida com desagrado. Carrego comigo o martelo que aperfeiçoa. Tentando diminuir a minha força, inventaram a anestesia.
Mas só compareço onde sou chamada. Sem o meu concurso os homens mofariam na inutilidade.
Vendo a Dor que sua amiga chorava, perguntou-lhe:
- E tu, quem és?
- Ah! Eu… - Retrucou a amiga timidamente – Não tenho morada certa, bato à porta de todos os corações, desde o órfão ao rei, desde o lar ao prostíbulo, faço minha ronda permanente e o meu trabalho quase nada renderia se não fosse teu precioso concurso, amiga Dor.
Servindo-se do intervalo, a Dor, que ainda mantinha o seu martelo nas mãos, indagou comovida:
- Então crês que eu sou importante? Somente um anjo poderia me falar assim. Mas quem és?
Aquele vulto estranho, tomando-lhe as mãos, beijou-as e lhe disse:
- Eu… Eu sou a CARIDADE!