Reflexão Della Morena (12/06/2020)

O Amor e o Velho Barqueiro

  • Publicado: Núcleo Digital - 12/06/2020

Chegando, afinal à margem do grande rio, o Amor avistou três barqueiros que se achavam indolentes, recostados nas pedras.

Dirigiu-se ao primeiro:

– Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?

Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:

– Não posso, menino! É impossível para mim!

O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas no seio tumultuoso da correnteza.

– Não. Não posso – recusou secamente.

O terceiro e último barqueiro, que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranqüilo, e, estendendo-lhe, bondoso, a larga mão forte, disse-lhe:

– Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.

Em meio a travessia, notando o amor a segurança com que o velho barqueiro barquejava, perguntou-lhe:

– Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?

– Menino – respondeu, paciente, o bom remador

-O primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo.

Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor!

– E tu, quem és, afinal?

– Eu sou o Tempo, meu filho – atalhou o velho barqueiro.

– Aprende para sempre a grande verdade.

Só o Tempo é que faz passar o Amor!

E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.

Sofrimento, desprezo…Que importa tudo isso ao coração Apaixonado?

O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.


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