Reflexão Della Morena (16/02/2021)

Reflexão

  • Publicado: Núcleo Digital - 16/02/2021

Por alguns anos, Norma tentava esquecer da morte do seu amado marido Dom Manuel Ortiz, junto a Dom Manuel, Norma tinha construído uma família e seu próprio negócio, com anos de suor e sacrifício, muito trabalho, Dom Manuel e Norma tinham conseguido uma verdadeira fortuna.

As posses da família de Norma juntavam 3000 hectares de terra, 10 mil cabeças de boi e uma enorme empresa que distribuía e exportava carnes para vários lugares do mundo.

Norma e Manuel administraram juntos a empresa, sempre prezando pela organização, disciplina e muita dedicação. Se antes, os dois faziam tudo isso juntos, agora era ela que seria a responsável por tomar conta de todo negócio.

Em um momento de reflexão, Norma lembrou com carinho de toda sua caminhada e de quando ela e seu marido, há 53 anos, estavam implorando comida pelas ruas de Madri, capital da Espanha.

Ela se recordou da determinação para conseguir sair da pobreza, quando Don Manuel prometeu a ela que tudo que eles estavam passando seriam apenas memórias. Norma estava com medo de enfrentar o resto de sua vida sozinha, pois durante todo tempo que viveu com Don Manuel, ela se sentia segura e protegida pelo marido, só que como Norma era uma senhora de idade, ela sabia que não daria conta de cuidar por muito tempo da sua empresa, com a ideia de um dia descansar ela decidiu que escolheria um dos seus 10 filhos para continuar tomando conta do seu negócio.

Norma sabia que essa era a melhor coisa a se fazer, mas tinha medo de escolher o filho errado pra tomar conta dos negócios, ela temia que um dos seus filhos pudesse arruinar o que ela e seu marido tinham levado uma vida inteira pra construir, por isso ela passou dias pensando... em como escolheria o filho para administrar seus negócios, foi então que Norma se lembrou de uma época em que ela e seu marido passaram por uma situação parecida no trabalho, claro que era diferente, por que se tratava dos seus filhos, mas ela sabia que podia usar a mesma lógica.

Em suas recordações, inclusive registradas em um diário que Norma guardava, ela se lembrou de uma vez em que ela teve que dar um bônus para alguns trabalhadores da sua empresa, que passavam dificuldades por causa de uma forte seca que tinha afetado a região. Todos os funcionários afirmavam que estavam passando por necessidades, mas Don Manuel e Norma, sabiam que a crise não tinha afetado a todos.

Foi então que eles bolaram um plano para descobrir quem realmente estava precisando de ajuda financeira. Eles então anunciaram na empresa que não dariam dinheiro para quem precisasse, apenas alimentos e produtos de primeira necessidade.

Norma preparou dezenas de sacos de trigo de 5 kg e disse que daria trigo a quem precisasse. Nesse momento, diversos funcionários ficaram ofendidos com Norma e Don Manuel e ficaram questionando o que eles iam fazem com sacos de 5kg de trigo e como uma empresa tão grande podia ajudar com tão pouco seus funcionários.

Norma e seu marido reuniram todos os funcionários da empresa e disseram que os que estavam passando por necessidades poderiam ficar à vontade para levar um saco de trigo para casa, depois de cerca de 25 dos 100 trabalhadores pegarem os sacos de trigo, Norma disse que em breve eles receberiam um bônus.

O resto dos funcionários desprezaram o trigo que Norma oferecia a eles dizendo que aquilo era uma afronta e que jamais se rebaixariam a ponto de afetar um saco de trigo, três dias depois Norma preparou mais alguns sacos de trigo e dessa vez eles iriam levar também um pote de manteiga, um litro de leite e uma dúzia de ovos, Norma disse mais uma vez que os que estavam passando necessidades poderiam ficar a vontade para levarem os alimentos pra casa e enquanto isso os outros funcionários continuavam dizendo que os donos da empresa eram mesquinhos e miseráveis e que não se preocupavam com seus funcionários.

Após cerca de 15 dias, os trabalhadores que tinham levado os sacos de trigo para casa, fizeram uma revelação incrível, no fundo de cada saco de trigo havia um envelope com uma boa quantidade de dinheiro, cerca de 600 euros.

Norma e Don Manuel estavam de consciência limpa pois sabiam que tinham ajudado financeiramente as pessoas que realmente estavam passando por necessidade. Norma se lembrou de todos os detalhes do que tinha acontecido na sua empresa décadas atrás e decidiu que faria a mesma coisa para escolher quais dos seus filhos ou filhas iriam comandar os negócios da família. Mas como aplicar a mesma estratégia com sua própria família? Era complicado! Alguns deles poderiam se sentir ofendidos, assim como aconteceu com os funcionários da empresa.

Foi quando Norma teve uma grande ideia para tentar resolver os seus problemas, seus filhos tinham seguido caminhos distintos, alguns tinham estudado e estavam muito bem empregados, enquanto outros tinham abertos suas próprias empresas, porém, durante a vida, nenhum deles tinha mostrado interesse em assumir os negócios dos pais, mas todos adoram receber uma pequena porcentagem dos lucros no começo de cada mês.

Norma sabia que não podia dizer aos filhos que estavam buscando sucessor pois isso poderia gerar brigadas entre eles, ela também temia que os negócios da família parassem em mãos erradas, ela então decidiu enviar uma carta para cada filho afirmando que a empresa havia falido, que eles tinham perdido tudo e que tinha restado apenas o velho galpão, onde Norma e Don Manuel tinham começado seu negócio.

Na carta Norma também perguntou se algum dos filhos estava disposto a herdar o galpão para começar o negócio novamente, porém a condição para herdar o galpão é que a pessoa teria que além de tentar reerguer o negócio da família, cuidar de Norma, já que ela era idosa e recentemente tinha descoberto que estava perdendo a visão, além de ter entrado em depressão profunda por causa da morte do marido.

No fim da carta, Norma disse que sentia muito por dar notícias tão ruins aos filhos, mas considerando que ela viveriam só mais alguns anos ela fez o que tinha que ser feito, por fim, ela disse que quem tivesse interesse em herdar o galpão com tais condições que fosse até a casa da mãe o mais rápido possível, na semana seguinte, muitos filhos responderam a carta de Norma, alguns afirmaram que estavam muito ocupados que não poderiam visita-la, outros diziam que estavam tocando seus próprios negócios e que não tinham tempo de cuidar dos negócios da família e ainda outros que criticaram Norma, dizendo que ela era uma péssima administradora e que por isso o negócio da família tinha chegado ao fim.
Norma ficou arrasada ao perceber que nenhum dos filhos estava disposto a recomeçar o negócios e muito menos cuidar dela.

Porém, todos os filhos tinham se pronunciado, menos um, o filho caçula de dona Norma, Vitor era considerado o mais problemático e irresponsável da família, ele vivia viajando pelo mundo e quando seu pai morreu ele não conseguiu chegar ao funeral.

Algumas semanas depois chegou uma carta do Alasca, na carta Vitor disse que estava a caminho da Espanha onde Norma morava e que a levaria para viajar o mundo com ele, ele também disse que se seus irmãos não quisessem o galpão que ele estava disposto a começar do zero ao lado dela. Norma nunca imaginou que Vitor seu filho mais novo e considerado irresponsável seria o único que estava disposto a cuidar dela.

Assim como na história do saco de trigo, Norma tinha descoberto quem realmente se preocupava com ela e quem merecia administrar os negócios da família. Cerca de 3 meses depois, Norma chamou todos os seus filhos para fazer uma reunião, quando todos estavam juntos, ela contou o que realmente tinha acontecido, alguns dos filhos a criticaram, dizendo que o que ela fez não era certo, porém Norma sabia que tinha feito a escolha certa.

Vitor ficou ao lado de Norma até o dia de sua morte e passou a cuidar dos negócios da família com mesmo carinho que seus pais cuidavam.


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