Reflexão Della Morena (19/02/2021)

O Olho

  • Publicado: Núcleo Digital - 19/02/2021

Havia um homem muito ambicioso. E como queria ser rico, muito rico, enganava os outros tirando proveito das dificuldades alheias, fabricava documentos falsos para se beneficiar; entrou na política, conseguiu cargos importantes no governo, mas foi um político corrupto; usou de seus cargos, de sua posição, para embolsar dinheiro e mais dinheiro da nação e assim por diante.

Um dia em que ele fazia as contas de seus haveres, ao erguer os olhos de sua escrivaninha, a dois metros de sua frente, viu um olho que o fitava fixamente.

Dali em diante, aquele olho não o deixou mais: de dia, de noite, em sua casa, na rua, onde quer que ele estivesse, lá estava o olho a fitá-lo.

Como era rico, mandou fazer um quarto confortável, subterrâneo, em seu palacete; e nele se instalou na esperança de ficar livre daquele olho. Mas que desespero!! Lá estava o olho a fitá-lo, como sempre.

-Maldito, maldito! Quem és tu? O que queres de mim?! - gritou alucinado.

E uma voz, que parecia sair do olho, respondeu-lhe:
- Eu sou a tua consciencia; vi tudo o que fizeste; enganaste o mundo, mas não enganaste a mim.

Num átimo, desfiou-lhe pela mente todos os seus atos desonestos, alicerces de sua fortuna, de sua riqueza; sentiu uma dor funda no coração e um nó ‘oprimuiu-lhe’ a garganta; dobrou os joelhos e chorou; e, chorando, perguntou-lhe:
- O que devo fazer agora?

E o olho respondeu-lhe:
- Com o dinheiro da iniquidade, faze o bem; distribui benefícios; não percas tempo!

Dias depois, pôs-se a andar pensativamente pelas ruas seguido pelo olho, meditando em como cumprir o que tinha dito. Como que guiado pelo olho, entrou numa favela sem perceber. E os favelados, admirados, olhavam para aquele homem tão bem vestido, de sapatos tão bem engraxados, tão pensativo, que andava por ali sem rumo, parecendo não os ver.

Quando notou onde estava, estremeceu; contudo se dignou a conversar com aquela gentezinha pobre.

E dentro em pouco tempo na favela surgiu um hospital, uma maternidade, uma creche, uma escola, os barracos foram remendados, oferecendo algum conforto.

Certa vez, passando adiante de um deles, ouviu que oravam por ele em voz alta, agradecendo a Deus o tê-lo enviado ali. E o homem, procurando o olho que sempre o acompanhava, não o viu mais; e compreendeu que estava em paz com a sua consciência."


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