Reflexão Della Morena (16/06/2021)

O presente do indiozinho

  • Publicado: Núcleo Digital - 16/06/2021

Numa cidadezinha do interior havia uma escolinha com uma única professora. Ela lecionava para todas as crianças da cidade. Ela amava as crianças e as crianças também a amavam muito.

No dia do professor, as crianças estavam agitadíssimas, cada uma querendo ser a primeira a entregar o seu presente à professora: os filhos do dono da chácara trouxeram uma cesta de frutos, cada um mais bonito e cheiroso que o outro; os dois loirinhos, filhos do dono da granja, trouxeram uma boa quantidade de ovos; a menina gorduchinha, filha da cozinheira, trouxe um belo bolo; os três pequerruchos da fazenda União trouxeram um cabrito e o menino-índio, único índio na escola, deu-lhe uma concha.

A professora ficou encantada com o nacarado da concha e colocou-a logo junto ao ouvido para escutar o barulho do mar que a concha reproduzia. Ela estava embevecida quando reparou que o menino índio tinha os pés e as pernas muito empoeirados, a unha do dedão quebrada, o short, além de gasto estava sujo, a camisa molhada de suor revelava braços e mãos imundos e o rostinho – nem se fala! – naquele rosto encardido, os olhos faiscavam de alegria.

Só no confronto com esses olhos, a professora se deu conta de que a praia mais próxima estava a três horas de caminhada. Considerando a volta, isso significava seis horas de caminhada ininterrupta e perguntou ao menino:
– Mas você foi até a praia buscar essa concha para mim?

E ele respondeu:
– A caminhada faz parte do presente!


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